19 agosto, 2020

RUMPELSTICHEN - IRMÃOS GRIMM

 

RUMPELSTICHEN

IRMÃOS GRIMM

ERA UMA VEZ UM MOLEIRO MUITO POBRE, QUE TINHA UMA FILHA LINDA. UM DIA ELE SE ENCONTROU COM O REI E, PARA SE DAR IMPORTÂNCIA, DISSE QUE SUA FILHA SABIA FIAR PALHA, TRANSFORMANDO-A EM OURO.

— ESTA É UMA HABILIDADE QUE ME ENCANTA — DISSE O REI. — SE É VERDADE O QUE DIZ, TRAGA SUA FILHA AMANHÃ CEDO AO CASTELO. EU QUERO PÔ-LA À PROVA.

NO DIA SEGUINTE, QUANDO A MOÇA CHEGOU, O REI LEVOU-A PARA UM QUARTINHO CHEIO DE PALHA, ENTREGOU-LHE UMA ROCA E ALGUMAS BOBINAS E DISSE:

— AGORA, PONHA-SE A TRABALHAR. SE ATÉ AMANHÃ CEDO NÃO TIVER FIADO TODA ESTA PALHA EM OURO, VOCÊ MORRERÁ! — DEPOIS SAIU, TRANCOU A PORTA E DEIXOU A FILHA DO MOLEIRO SOZINHA.

A POBRE MOÇA SENTOU-SE NUM CANTO E, POR MUITO TEMPO, FICOU PENSANDO NO QUE FAZER. NÃO TINHA A MENOR IDEIA DE COMO FIAR PALHA EM OURO E NÃO VIA JEITO DE ESCAPAR DA MORTE. O PAVOR TOMOU CONTA DA JOVEM, QUE COMEÇOU A CHORAR DESESPERADAMENTE. DE REPENTE, A PORTA SE ABRIU E ENTROU UM ANÃOZINHO MUITO ESQUISITO.

— BOA TARDE, MINHA LINDA MENINA! — DISSE ELE. — POR QUE CHORA TANTO?

— AH! — RESPONDEU A MOÇA ENTRE SOLUÇOS. — O REI ME MANDOU FIAR TODA ESTA PALHA EM OURO. NÃO SEI COMO FAZER ISSO!

— E SE EU FIAR PARA VOCÊ? O QUE ME DARÁ EM TROCA?

— DOU-LHE O MEU COLAR.

O ANÃOZINHO PEGOU O COLAR, SENTOU-SE DIANTE DA ROCA E ZUM-ZUM-ZUM: GIROU-A TRÊS VEZES E A BOBINA FICOU CHEIA DE OURO. ENTÃO COMEÇOU DE NOVO, GIROU A ROCA TRÊS VEZES E A SEGUNDA BOBINA FICOU CHEIA TAMBÉM. VAROU A NOITE TRABALHANDO ASSIM E, QUANDO ACABOU DE FIAR TODA A PALHA E AS BOBINAS FICARAM CHEIAS DE OURO, SUMIU.

NO DIA SEGUINTE, MAL O SOL APARECEU, O REI CHEGOU E ARREGALOU OS OLHOS, ASSOMBRADO E FELIZ AO VER TODO AQUELE OURO. CONTUDO, SEU AMBICIOSO CORAÇÃO NÃO SE SATISFEZ.

LEVOU A FILHA DO MOLEIRO PARA OUTRO QUARTO UM POUCO MAIOR, TAMBÉM CHEIO DE PALHA, E ORDENOU-LHE QUE ENCHESSE AS BOBINAS DE OURO, CASO QUISESSE CONTINUAR VIVA.

A POBRE MOÇA FICOU SENTADA OLHANDO A PALHA, SEM SABER O QUE FAZER.

“AH… SE O ANÃOZINHO VOLTASSE…”, PENSOU, QUERENDO CHORAR. NESSE INSTANTE A PORTA SE ABRIU E ELE ENTROU.

— O QUE VOCÊ ME DÁ, SE EU FIAR A PALHA? — PERGUNTOU.

— DOU-LHE MEU ANEL.

ELE PEGOU O ANEL E SE PÔS A TRABALHAR. A CADA TRÊS VOLTAS DA ROCA, UMA BOBINA SE ENCHIA DE OURO.

NO OUTRO DIA, QUANDO O REI CHEGOU E VIU AS BOBINAS RELUZINDO DE OURO, FICOU MAIS RADIANTE. MAS AINDA DESSA VEZ NÃO SE CONTENTOU. LEVOU A MOÇA PARA OUTRO QUARTO AINDA MAIOR, TAMBÉM CHEIO DE PALHA, E DISSE:

— VOCÊ VAI FIAR ESTA NOITE. SE PUDER REPETIR ESSA MARAVILHA, QUERO QUE SEJA MINHA ESPOSA.

O REI SAIU, PENSANDO: “SERÁ QUE ELA É MESMO FILHA DO MOLEIRO? BAH! O QUE IMPORTA É QUE VOU ME CASAR COM A MULHER MAIS RICA DO MUNDO!”.

QUANDO A MOÇA FICOU SOZINHA, O ANÃOZINHO APARECEU PELA TERCEIRA VEZ E PERGUNTOU:

— O QUE VOCÊ ME DÁ, SE AINDA DESSA VEZ EU FIAR A PALHA?

— EU NÃO TENHO MAIS NADA…

— SE É ASSIM, PROMETA QUE ME DARÁ SEU PRIMEIRO FILHO, SE VOCÊ SE TORNAR RAINHA.

“ISSO NUNCA VAI ACONTECER”, PENSOU A FILHA DO MOLEIRO. E, NÃO TENDO SAÍDA, PROMETEU AO ANÃOZINHO O QUE ELE QUIS. IMEDIATAMENTE ELE SE PÔS A TRABALHAR, GIRANDO A ROCA A NOITE INTEIRA.

DE MANHÃZINHA, QUANDO O REI ENTROU NO QUARTO, ENCONTROU PRONTINHO O QUE HAVIA EXIGIDO. CUMPRINDO SUA PALAVRA, CASOU-SE COM A BELA FILHA DO MOLEIRO, QUE ASSIM SE TORNOU RAINHA.

UM ANO DEPOIS, ELA DEU À LUZ UMA LINDA CRIANÇA. JÁ NEM SE LEMBRAVA MAIS DO MISTERIOSO ANÃOZINHO. MAS NAQUELE MESMO DIA, A PORTA SE ABRIU REPENTINAMENTE E ELE ENTROU.

— VIM BUSCAR O QUE VOCÊ ME PROMETEU — DISSE.  A RAINHA FICOU APAVORADA E OFERECEU-LHE TODAS AS RIQUEZAS DO REINO, SE ELE A DEIXASSE FICAR COM A CRIANÇA. MAS ELE NÃO QUIS.

— NÃO! UMA COISA VIVA VALE MUITO MAIS PARA MIM QUE TODOS OS TESOUROS

DO MUNDO!

A RAINHA FICOU DESESPERADA; TANTO CHOROU E SE LAMENTOU QUE O ANÃOZINHO ACABOU FICANDO COM PENA.

— ESTÁ BEM — DISSE. — VOU LHE DAR TRÊS DIAS. SE NO FIM DESSE PRAZO VOCÊ ADIVINHAR O MEU NOME, PODERÁ FICAR COM A CRIANÇA.

A RAINHA PASSOU A NOITE LEMBRANDO OS NOMES QUE CONHECIA E MANDOU UM MENSAGEIRO PERCORRER O REINO EM BUSCA DE NOVOS NOMES.

NA MANHÃ SEGUINTE, QUANDO O ANÃOZINHO CHEGOU, ELA FOI DIZENDO:

— GASPAR, MELQUIOR, BALTAZAR — E ASSIM CONTINUOU, FALANDO TODOS OS NOMES ANOTADOS. MAS A CADA UM DELES O ANÃO RESPONDIA BALANÇANDO A CABEÇA:

— NÃO É ESSE MEU NOME!

NO SEGUNDO DIA, A RAINHA PEDIU ÀS PESSOAS DA VIZINHANÇA QUE LHE DESSEM SEUS APELIDOS, E FEZ UMA LISTA DOS NOMES MAIS ESQUISITOS, COMO: JOÃO DAS LONJURAS, CARABELASSIM, PERNIL-MAL-ASSADO E OUTROS. MAS A TODOS A RESPOSTA DO ANÃO ERA A MESMA:

— NÃO É ESSE MEU NOME!

NO TERCEIRO DIA, O MENSAGEIRO QUE ANDAVA PELO REINO À CATA DE NOVOS NOMES VOLTOU E DISSE:

— NÃO DESCOBRI UM SÓ NOME NOVO. MAS EU ESTAVA ANDANDO POR UM BOSQUE NO ALTO DE UM MONTE, ONDE RAPOSAS E COELHOS DIZEM BOA-NOITE UNS AOS OUTROS, QUANDO VI UMA CABANA. DIANTE DA PORTA ARDIA UMA FOGUEIRINHA E UM ANÃO MUITO ESQUISITO, PULANDO NUM PÉ SÓ AO REDOR DO FOGO, CANTAVA:

— HOJE EU FRITO! AMANHÃ EU COZINHO!

DEPOIS DE AMANHÃ SERÁ MEU O FILHO DA RAINHA!

COISA BOA É NINGUÉM SABER QUE MEU NOME É RUMPELSTICHEN!

PODE-SE IMAGINAR A ALEGRIA DA RAINHA QUANDO OUVIU ESSE NOME. E QUANDO UM POUCO MAIS TARDE O ANÃOZINHO VEIO E PERGUNTOU:

— ENTÃO, SENHORA RAINHA, QUAL É MEU NOME?

ELA DISSE ANTES:

— SERÁ FULANO?

— NÃO!

— SERÁ BELTRANO?

— NÃO!

— SERÁ POR ACASO RUMPELSTICHEN?

— FOI O DIABO QUE TE CONTOU! — GRITOU O ANÃOZINHO FURIOSO.

E BATEU O PÉ DIREITO COM TANTA FORÇA NO CHÃO QUE AFUNDOU ATÉ A VIRILHA. DEPOIS, TENTANDO TIRAR O PÉ DO BURACO, AGARROU COM AMBAS AS MÃOS O PÉ ESQUERDO E PUXOU-O PARA CIMA COM TAL VIOLÊNCIA QUE SEU CORPO SE RASGOU EM DOIS. ENTÃO, DESAPARECEU.


(ESCREVA NOS COMENTÁRIOS O QUE ACHOU DA HISTÓRIA E QUAL A MORAL)

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