O PEQUENO POLEGAR
CHARLES PERRAULT
ERA UMA VEZ UM CASAL DE
LENHADORES MUITO, MUITO POBRES, COM SETE FILHOS PEQUENOS. UM DELES, O CAÇULA,
ERA MAGRO E FRACO, MAS ESPERTO E INTELIGENTE; ERA CONHECIDO COMO POLEGAR, POR
SER MUITO PEQUENO AO NASCER.
NAQUELE ANO DIFÍCIL, FALTAVA
TUDO, PRATICAMENTE NÃO HAVIA O QUE COMER.
OS DOIS LENHADORES,
DESESPERADOS COM TANTA MISÉRIA E TANTAS BOCAS PARA ALIMENTAR, ENCONTRARAM UMA
TRISTE SOLUÇÃO: IRIAM SE LIVRAR DOS SETE FILHOS ESFOMEADOS.
ENQUANTO OS FILHOS DORMIAM,
PAI E MÃE PLANEJARAM COMO AGIRIAM PARA ABANDONAR AS CRIANÇAS.
— VAMOS LEVAR AS CRIANÇAS
PARA A FLORESTA — DISSE O LENHADOR. — LÁ, ENQUANTO JUNTAM LENHA, NÓS AS
ABANDONAREMOS E FUGIREMOS SEM QUE PERCEBAM.
QUANDO O PAI PRONUNCIOU A
ÚLTIMA PALAVRA, SEUS OLHOS E OS DE SUA ESPOSA ESTAVAM CHEIOS DE LÁGRIMAS.
— COITADINHOS DOS MEUS
FILHOS — DISSE A MÃE, SOLUÇANDO. — FICARÃO SOZINHOS, SENTINDO FRIO, FOME E MEDO
DAS FERAS DO MATO…
— PREFERE, ENTÃO, QUE MORRAM
DE FOME AQUI MESMO CONOSCO, SOB NOSSAS VISTAS? — PERGUNTOU O PAI, TAMBÉM
CHORANDO.
NÃO HAVIA SOLUÇÃO. AS
CRIANÇAS MORRERIAM, EM CASA OU NA FLORESTA. ENTÃO, ERA MELHOR QUE FOSSE LONGE,
PARA OS PAIS SOFREREM MENOS. COMBINARAM O QUE FARIAM NO DIA SEGUINTE E FORAM
DORMIR.
PELA MANHÃ, O CASAL CHAMOU
OS FILHOS E FORAM TODOS PARA A FLORESTA.
ENQUANTO AS CRIANÇAS ESTAVAM
OCUPADAS EM APANHAR BASTANTE LENHA, OS PAIS FORAM SE AFASTANDO, AFASTANDO, ATÉ
FICAREM BEM LONGE.
QUANDO OS SETE IRMÃOS
PERCEBERAM QUE ESTAVAM SOZINHOS, OS SEIS MAIORES COMEÇARAM A CHORAR. MAS
POLEGAR NÃO DESANIMOU. ENCORAJOU OS IRMÃOS PROPONDO QUE, JUNTOS, PROCURASSEM O
CAMINHO DE CASA.
COMEÇARAM A CAMINHAR PELA
FLORESTA MAS, INFELIZMENTE, QUANTO MAIS CAMINHAVAM, PARECIA QUE ESTAVAM MAIS
PERDIDOS E NÃO SABIAM QUE RUMO SEGUIR.
CHEGOU A NOITE, COMEÇOU A
CHOVER E A FAZER MUITO FRIO; AO LONGE, OS LOBOS UIVAVAM. OS SEIS MAIORES
ESTAVAM DESESPERADOS, AMEDRONTADOS E DESANIMADOS.
MAS POLEGAR, SEMPRE MUITO
ATIVO, SUBIU EM UMA GRANDE ÁRVORE E, LÁ DO ALTO, VIU UMA LUZ BRILHAR AO LONGE.
IMAGINOU QUE SERIA A LUZ DE UMA CASA.
SEM HESITAR, O GAROTO DESCEU
DA ÁRVORE E, GUIANDO OS IRMÃOS, COMEÇOU A ANDAR NA DIREÇÃO DAQUELA LUZINHA
DISTANTE.
ANDARAM E ANDARAM, ATÉ
CHEGAR A UMA CASA IMENSA E ASSUSTADORA. POLEGARZINHO BATEU À PORTA E UMA MULHER
VEIO ABRIR.
— QUEM SÃO VOCÊS, CRIANÇAS,
E O QUE QUEREM?
— ESTAMOS PERDIDOS NA MATA.
TENHA PENA DE NÓS, MINHA SENHORA. ESTAMOS COM FOME E PRECISAMOS DE UM LUGAR
PARA DORMIR. PODERIA NOS ABRIGAR?
— COITADOS! VOCÊS ESTÃO SEM
SORTE. ESTA É A CASA DE MEU MARIDO, O GIGANTE, VERDADEIRO DEVORADOR DE
CRIANCINHAS.
POLEGAR LOGO RESPONDEU, SEM
DEMONSTRAR MEDO:
— SE FICARMOS NA MATA, COM
CERTEZA SEREMOS DEVORADOS PELOS LOBOS.
ENTÃO, JÁ QUE ESTAMOS AQUI,
PREFERIMOS SER DEVORADOS PELO GIGANTE. ALIÁS, QUEM SABE ELE NÃO SE COMOVERÁ E
NOS DEIXARÁ VIVER? JÁ COM OS LOBOS, NÃO HAVERÁ CONVERSA ALGUMA.
A MULHER DO GIGANTE TINHA
CORAÇÃO MOLE E SE DEIXOU CONVENCER: PERMITIU QUE OS SETE IRMÃOS ENTRASSEM. MAL
TINHAM ACABADO DE ENTRAR, OUVIRAM FORTES GOLPES NA PORTA: ERA O GIGANTE QUE
REGRESSAVA!
A MULHER ESCONDEU AS
CRIANÇAS EMBAIXO DO ARMÁRIO E CORREU PARA ABRIR A PORTA.
O GIGANTE ENTROU. ERA UM SER
ENORME, DE ASPECTO HORRÍVEL. LOGO QUE PASSOU PELA PORTA, COMEÇOU A FAREJAR DE
UM LADO E DE OUTRO, DESCONFIADO, CHEIRANDO COM PRAZER E APETITE:
— COZIDA OU ENSOPADA. AQUI
TEM CHEIRO DE DELICIOSA CRIANÇADA!
DIZIA ISSO E LAMBIA OS
BEIÇOS.
— IMAGINE, NADA DISSO! É O
CHEIRO DA JANTA — DISSE A ESPOSA, TREMENDO DE PAVOR.
MAS O GIGANTE NÃO SE DEIXAVA
ENGANAR, POIS CONHECIA BEM DEMAIS O CHEIRO DA CARNE HUMANA.
— ASSADINHAS OU FRITINHAS.
AQUI TEM O CHEIRO DE CRIANCINHAS!
E LAMBIA OS BEIÇOS.
GUIANDO-SE PELO FARO, FOI EM
DIREÇÃO AO ARMÁRIO E, COM AS ENORMES MÃOS, ARRANCOU DE LÁ OS SETE IRMÃOS, UM
POR UM, MAIS MORTOS DO QUE VIVOS PELO MEDO.
— MUITO BEM! AQUI TEM UMA
ÓTIMA REFEIÇÃO PARA AMANHÃ.
E COMEÇOU A AFIAR O FACÃO.
JÁ TINHA AGARRADO O PESCOÇO
DO IRMÃO MAIS VELHO QUANDO A MULHER FALOU:
— POR QUE VOCÊ QUER MATÁ-LOS
NESTA NOITE? A JANTA JÁ ESTÁ PRONTA!
— TEM RAZÃO, MINHA VELHA —
RESMUNGOU O GIGANTE. É MELHOR ECONOMIZAR, PORTANTO DEIXÁ-LOS-EI PARA AMANHÃ, É
MELHOR QUE DESCANSEM UM POUCO.
A MULHER DO GIGANTE SUSPIROU
ALIVIADA. LEVOU AS CRIANÇAS PARA DORMIR NO QUARTO EM QUE ESTAVAM SUAS SETE
FILHAS, SETE MENINAS MUITO FEIAS E CRUÉIS, COMO O PAI.
ASSIM, DORMIRIAM EM UMA
LARGA CAMA AS SETE GAROTINHAS. E EM UMA CAMA IGUAL, AO LADO, OS SETE
IRMÃOZINHOS. POLEGAR REPAROU QUE AS FILHAS DO GIGANTE USAVAM SUAS COROAS DE
OURO MESMO ENQUANTO DORMIAM.
RECEANDO QUE O MALVADO
MUDASSE DE IDEIA E DECIDISSE MATÁ-LOS NAQUELA MESMA NOITE, O PEQUENO PEGOU SEU
GORRINHO E OS DE SEUS IRMÃOS E OS COLOCOU COM CUIDADO NA CABEÇA DAS GAROTAS
ADORMECIDAS, APÓS TIRAR AS COROAZINHAS DE OURO, QUE COLOCOU NA SUA CABEÇA E NA
DOS QUERIDOS IRMÃOS. ESTAVA FEITA A TROCA.
A CERTA ALTURA O GIGANTE
ACORDOU, ARREPENDIDO POR TER ADIADO A MATANÇA. AGARROU O FACÃO E FOI AO QUARTO
DAS FILHAS, NO ESCURO. TATEANDO, APROXIMOU-SE DA CAMA EM QUE DORMIAM OS SETE
IRMÃOS. POLEGAR SENTIU A ENORME MÃO DO GIGANTE TOCAR EM SEUS CABELOS E NA
COROAZINHA E, EM SEGUIDA, O HORROROSO EXCLAMOU:
— MEU DEUS! O QUE ESTAVA
PARA FAZER? POR POUCO QUASE DEGOLEI MINHAS PRÓPRIAS FILHOTAS!
APROXIMOU-SE DA OUTRA CAMA,
ESTENDEU A MÃO, SENTIU OS GORRINHOS DE LÃ RÚSTICA E RIU.
E, SEM DÓ, CORTOU DE UMA VEZ
SÓ AS SETE GARGANTAS. DEPOIS VOLTOU PARA A CAMA, PARA CONTINUAR O SONO
INTERROMPIDO. BASTARAM ALGUNS MINUTOS, E JÁ ESTAVA RONCANDO FORTE.
COM MUITO CUIDADO, O PEQUENO
POLEGAR ACORDOU OS IRMÃOS E CONTOU-LHES O QUE ACONTECERA. FALOU DA TROCA DOS
GORROS COM AS COROAS PARA ENGANAR O GIGANTE, E CONCLUIU:
— DEVEMOS FUGIR
IMEDIATAMENTE, ANTES QUE SEJA TARDE!
SILENCIOSAMENTE, OS
COITADINHOS SAÍRAM DAQUELA CASA E FORAM PARA A FLORESTA. ANDARAM A NOITE TODA,
SEM SABER BEM PARA ONDE IR. CAMINHAVAM RAPIDAMENTE, PARA ESCAPAR DA FÚRIA DO
TERRÍVEL GIGANTE.
NA MANHÃ SEGUINTE O GIGANTE
ACORDOU E, ANTES DE MAIS NADA, FOI PEGAR SUAS VÍTIMAS PARA COZINHÁ-LAS.
IMAGINEM SÓ COMO FICOU, AO PERCEBER QUE HAVIA DEGOLADO SUAS AMADAS FILHINHAS E
QUE OS SETE GURIS TINHAM DESAPARECIDO!
CEGO DE RAIVA, CALÇOU SUAS
BOTAS MÁGICAS, QUE A CADA PASSO ALCANÇAVAM SETE LÉGUAS, E PARTIU PARA A
PERSEGUIÇÃO. DALI A POUCO JÁ ESTAVA BEM PRÓXIMO DOS FUGITIVOS.
POLEGARZINHO, SEMPRE ALERTA,
VIU QUE ELE ESTAVA CHEGANDO E, SEM PERDER A CALMA, MANDOU OS IRMÃOS SE
ESCONDEREM EM UMA CAVERNA ALI PERTINHO.
E LÁ VINHA O GIGANTE, CADA
VEZ MAIS PERTO DOS INDEFESOS MENINOS.
ANDARA MUITO, E JÁ COMEÇAVA
A SE CANSAR. PRECISOU, ENTÃO, PARAR E RESOLVEU DAR UMA COCHILADINHA. E SABEM
ONDE? BEM NA FRENTE DA CAVERNA EM QUE ESTAVAM ESCONDIDOS OS IRMÃOS.
POLEGAR PENSOU RÁPIDO E,
APROVEITANDO O SONO DO INIMIGO, MANDOU OS OUTROS SEIS FUGIREM. DEPOIS,
APROXIMOU-SE DO GIGANTE E, COM MUITO CUIDADO PARA NÃO ACORDAR O GULOSO,
DESCALÇOU-LHE AS BOTAS MÁGICAS.
ERAM IMENSOS AQUELES
CALÇADOS DO GIGANTE, MAS, POR SEREM MÁGICOS, LOGO SE AJUSTARAM AOS PÉS
PEQUENININHOS DO NOVO DONO.
— AGORA SIM! — DISSE DECIDIDO.
— ANDAREI PELO MUNDO ATÉ ENCONTRARUM MODO DE MELHORAR NOSSAS VIDAS.
PARTIU, CALÇADO COM AS BOTAS
QUE, A CADA PASSO, PERCORRIAM SETE LÉGUAS. ANDOU MUITO, MUITO MESMO, MAIS QUE O
PRÓPRIO GIGANTE. APÓS ALGUMAS HORAS, CHEGOU A UM REINO DISTANTE, QUE ESTAVA EM
GUERRA.
LOGO SOUBE QUE O REI DALI
RECOMPENSARIA COM UMA FORTUNA A PESSOA QUE LHE TROUXESSE QUALQUER INFORMAÇÃO
SOBRE AS TROPAS E AS BATALHAS. ESPERTO COMO ERA, POLEGAR FOI PARA A REGIÃO DO
COMBATE, AUXILIADO PELAS BOTAS VELOZES.
QUANDO RETORNOU, LEVOU EXCELENTES
INFORMAÇÕES PARA O REI QUE, MUITO SATISFEITO, PAGOU-LHE O COMBINADO. E AINDA
LHE DEU MAIS ALGUMAS CENTENAS DE MOEDAS.
NO DIA SEGUINTE,
POLEGARZINHO CALÇOU DE NOVO AS BOTAS MÁGICAS E, EM UM PISCAR DE OLHOS, ALCANÇOU
A CABANA DOS PAIS, ONDE FOI ACOLHIDO COM ENORME ALEGRIA POR TODOS, INCLUSIVE
PELOS SEUS IRMÃOS, QUE TINHAM CONSEGUIDO VOLTAR.
ASSIM, GRAÇAS AO PEQUENO E
INTELIGENTE POLEGAR, TODOS VIVERAM FELIZES DESDE AQUELE DIA, COM MUITA FARTURA.
(ESCREVA NOS COMENTÁRIOS O QUE ACHOU DA HISTÓRIA E QUAL A MORAL)