19 agosto, 2020

O PEQUENO POLEGAR - CHARLES PERRAULT

 

O PEQUENO POLEGAR

CHARLES PERRAULT

ERA UMA VEZ UM CASAL DE LENHADORES MUITO, MUITO POBRES, COM SETE FILHOS PEQUENOS. UM DELES, O CAÇULA, ERA MAGRO E FRACO, MAS ESPERTO E INTELIGENTE; ERA CONHECIDO COMO POLEGAR, POR SER MUITO PEQUENO AO NASCER.

NAQUELE ANO DIFÍCIL, FALTAVA TUDO, PRATICAMENTE NÃO HAVIA O QUE COMER.

OS DOIS LENHADORES, DESESPERADOS COM TANTA MISÉRIA E TANTAS BOCAS PARA ALIMENTAR, ENCONTRARAM UMA TRISTE SOLUÇÃO: IRIAM SE LIVRAR DOS SETE FILHOS ESFOMEADOS.

ENQUANTO OS FILHOS DORMIAM, PAI E MÃE PLANEJARAM COMO AGIRIAM PARA ABANDONAR AS CRIANÇAS.

— VAMOS LEVAR AS CRIANÇAS PARA A FLORESTA — DISSE O LENHADOR. — LÁ, ENQUANTO JUNTAM LENHA, NÓS AS ABANDONAREMOS E FUGIREMOS SEM QUE PERCEBAM.

QUANDO O PAI PRONUNCIOU A ÚLTIMA PALAVRA, SEUS OLHOS E OS DE SUA ESPOSA ESTAVAM CHEIOS DE LÁGRIMAS.

— COITADINHOS DOS MEUS FILHOS — DISSE A MÃE, SOLUÇANDO. — FICARÃO SOZINHOS, SENTINDO FRIO, FOME E MEDO DAS FERAS DO MATO…

— PREFERE, ENTÃO, QUE MORRAM DE FOME AQUI MESMO CONOSCO, SOB NOSSAS VISTAS? — PERGUNTOU O PAI, TAMBÉM CHORANDO.

NÃO HAVIA SOLUÇÃO. AS CRIANÇAS MORRERIAM, EM CASA OU NA FLORESTA. ENTÃO, ERA MELHOR QUE FOSSE LONGE, PARA OS PAIS SOFREREM MENOS. COMBINARAM O QUE FARIAM NO DIA SEGUINTE E FORAM DORMIR.

PELA MANHÃ, O CASAL CHAMOU OS FILHOS E FORAM TODOS PARA A FLORESTA.

ENQUANTO AS CRIANÇAS ESTAVAM OCUPADAS EM APANHAR BASTANTE LENHA, OS PAIS FORAM SE AFASTANDO, AFASTANDO, ATÉ FICAREM BEM LONGE.

QUANDO OS SETE IRMÃOS PERCEBERAM QUE ESTAVAM SOZINHOS, OS SEIS MAIORES COMEÇARAM A CHORAR. MAS POLEGAR NÃO DESANIMOU. ENCORAJOU OS IRMÃOS PROPONDO QUE, JUNTOS, PROCURASSEM O CAMINHO DE CASA.

COMEÇARAM A CAMINHAR PELA FLORESTA MAS, INFELIZMENTE, QUANTO MAIS CAMINHAVAM, PARECIA QUE ESTAVAM MAIS PERDIDOS E NÃO SABIAM QUE RUMO SEGUIR.

CHEGOU A NOITE, COMEÇOU A CHOVER E A FAZER MUITO FRIO; AO LONGE, OS LOBOS UIVAVAM. OS SEIS MAIORES ESTAVAM DESESPERADOS, AMEDRONTADOS E DESANIMADOS.

MAS POLEGAR, SEMPRE MUITO ATIVO, SUBIU EM UMA GRANDE ÁRVORE E, LÁ DO ALTO, VIU UMA LUZ BRILHAR AO LONGE. IMAGINOU QUE SERIA A LUZ DE UMA CASA.

SEM HESITAR, O GAROTO DESCEU DA ÁRVORE E, GUIANDO OS IRMÃOS, COMEÇOU A ANDAR NA DIREÇÃO DAQUELA LUZINHA DISTANTE.

ANDARAM E ANDARAM, ATÉ CHEGAR A UMA CASA IMENSA E ASSUSTADORA. POLEGARZINHO BATEU À PORTA E UMA MULHER VEIO ABRIR.

— QUEM SÃO VOCÊS, CRIANÇAS, E O QUE QUEREM?

— ESTAMOS PERDIDOS NA MATA. TENHA PENA DE NÓS, MINHA SENHORA. ESTAMOS COM FOME E PRECISAMOS DE UM LUGAR PARA DORMIR. PODERIA NOS ABRIGAR?

— COITADOS! VOCÊS ESTÃO SEM SORTE. ESTA É A CASA DE MEU MARIDO, O GIGANTE, VERDADEIRO DEVORADOR DE CRIANCINHAS.

POLEGAR LOGO RESPONDEU, SEM DEMONSTRAR MEDO:

— SE FICARMOS NA MATA, COM CERTEZA SEREMOS DEVORADOS PELOS LOBOS.

ENTÃO, JÁ QUE ESTAMOS AQUI, PREFERIMOS SER DEVORADOS PELO GIGANTE. ALIÁS, QUEM SABE ELE NÃO SE COMOVERÁ E NOS DEIXARÁ VIVER? JÁ COM OS LOBOS, NÃO HAVERÁ CONVERSA ALGUMA.

A MULHER DO GIGANTE TINHA CORAÇÃO MOLE E SE DEIXOU CONVENCER: PERMITIU QUE OS SETE IRMÃOS ENTRASSEM. MAL TINHAM ACABADO DE ENTRAR, OUVIRAM FORTES GOLPES NA PORTA: ERA O GIGANTE QUE REGRESSAVA!

A MULHER ESCONDEU AS CRIANÇAS EMBAIXO DO ARMÁRIO E CORREU PARA ABRIR A PORTA.

O GIGANTE ENTROU. ERA UM SER ENORME, DE ASPECTO HORRÍVEL. LOGO QUE PASSOU PELA PORTA, COMEÇOU A FAREJAR DE UM LADO E DE OUTRO, DESCONFIADO, CHEIRANDO COM PRAZER E APETITE:

— COZIDA OU ENSOPADA. AQUI TEM CHEIRO DE DELICIOSA CRIANÇADA!

DIZIA ISSO E LAMBIA OS BEIÇOS.

— IMAGINE, NADA DISSO! É O CHEIRO DA JANTA — DISSE A ESPOSA, TREMENDO DE PAVOR.

MAS O GIGANTE NÃO SE DEIXAVA ENGANAR, POIS CONHECIA BEM DEMAIS O CHEIRO DA CARNE HUMANA.

— ASSADINHAS OU FRITINHAS. AQUI TEM O CHEIRO DE CRIANCINHAS!

E LAMBIA OS BEIÇOS.

GUIANDO-SE PELO FARO, FOI EM DIREÇÃO AO ARMÁRIO E, COM AS ENORMES MÃOS, ARRANCOU DE LÁ OS SETE IRMÃOS, UM POR UM, MAIS MORTOS DO QUE VIVOS PELO MEDO.

— MUITO BEM! AQUI TEM UMA ÓTIMA REFEIÇÃO PARA AMANHÃ.

E COMEÇOU A AFIAR O FACÃO.

JÁ TINHA AGARRADO O PESCOÇO DO IRMÃO MAIS VELHO QUANDO A MULHER FALOU:

— POR QUE VOCÊ QUER MATÁ-LOS NESTA NOITE? A JANTA JÁ ESTÁ PRONTA!

— TEM RAZÃO, MINHA VELHA — RESMUNGOU O GIGANTE. É MELHOR ECONOMIZAR, PORTANTO DEIXÁ-LOS-EI PARA AMANHÃ, É MELHOR QUE DESCANSEM UM POUCO.

A MULHER DO GIGANTE SUSPIROU ALIVIADA. LEVOU AS CRIANÇAS PARA DORMIR NO QUARTO EM QUE ESTAVAM SUAS SETE FILHAS, SETE MENINAS MUITO FEIAS E CRUÉIS, COMO O PAI.

ASSIM, DORMIRIAM EM UMA LARGA CAMA AS SETE GAROTINHAS. E EM UMA CAMA IGUAL, AO LADO, OS SETE IRMÃOZINHOS. POLEGAR REPAROU QUE AS FILHAS DO GIGANTE USAVAM SUAS COROAS DE OURO MESMO ENQUANTO DORMIAM.

RECEANDO QUE O MALVADO MUDASSE DE IDEIA E DECIDISSE MATÁ-LOS NAQUELA MESMA NOITE, O PEQUENO PEGOU SEU GORRINHO E OS DE SEUS IRMÃOS E OS COLOCOU COM CUIDADO NA CABEÇA DAS GAROTAS ADORMECIDAS, APÓS TIRAR AS COROAZINHAS DE OURO, QUE COLOCOU NA SUA CABEÇA E NA DOS QUERIDOS IRMÃOS. ESTAVA FEITA A TROCA.

A CERTA ALTURA O GIGANTE ACORDOU, ARREPENDIDO POR TER ADIADO A MATANÇA. AGARROU O FACÃO E FOI AO QUARTO DAS FILHAS, NO ESCURO. TATEANDO, APROXIMOU-SE DA CAMA EM QUE DORMIAM OS SETE IRMÃOS. POLEGAR SENTIU A ENORME MÃO DO GIGANTE TOCAR EM SEUS CABELOS E NA COROAZINHA E, EM SEGUIDA, O HORROROSO EXCLAMOU:

— MEU DEUS! O QUE ESTAVA PARA FAZER? POR POUCO QUASE DEGOLEI MINHAS PRÓPRIAS FILHOTAS!

APROXIMOU-SE DA OUTRA CAMA, ESTENDEU A MÃO, SENTIU OS GORRINHOS DE LÃ RÚSTICA E RIU.

E, SEM DÓ, CORTOU DE UMA VEZ SÓ AS SETE GARGANTAS. DEPOIS VOLTOU PARA A CAMA, PARA CONTINUAR O SONO INTERROMPIDO. BASTARAM ALGUNS MINUTOS, E JÁ ESTAVA RONCANDO FORTE.

COM MUITO CUIDADO, O PEQUENO POLEGAR ACORDOU OS IRMÃOS E CONTOU-LHES O QUE ACONTECERA. FALOU DA TROCA DOS GORROS COM AS COROAS PARA ENGANAR O GIGANTE, E CONCLUIU:

— DEVEMOS FUGIR IMEDIATAMENTE, ANTES QUE SEJA TARDE!

SILENCIOSAMENTE, OS COITADINHOS SAÍRAM DAQUELA CASA E FORAM PARA A FLORESTA. ANDARAM A NOITE TODA, SEM SABER BEM PARA ONDE IR. CAMINHAVAM RAPIDAMENTE, PARA ESCAPAR DA FÚRIA DO TERRÍVEL GIGANTE.

NA MANHÃ SEGUINTE O GIGANTE ACORDOU E, ANTES DE MAIS NADA, FOI PEGAR SUAS VÍTIMAS PARA COZINHÁ-LAS. IMAGINEM SÓ COMO FICOU, AO PERCEBER QUE HAVIA DEGOLADO SUAS AMADAS FILHINHAS E QUE OS SETE GURIS TINHAM DESAPARECIDO!

CEGO DE RAIVA, CALÇOU SUAS BOTAS MÁGICAS, QUE A CADA PASSO ALCANÇAVAM SETE LÉGUAS, E PARTIU PARA A PERSEGUIÇÃO. DALI A POUCO JÁ ESTAVA BEM PRÓXIMO DOS FUGITIVOS.

POLEGARZINHO, SEMPRE ALERTA, VIU QUE ELE ESTAVA CHEGANDO E, SEM PERDER A CALMA, MANDOU OS IRMÃOS SE ESCONDEREM EM UMA CAVERNA ALI PERTINHO.

E LÁ VINHA O GIGANTE, CADA VEZ MAIS PERTO DOS INDEFESOS MENINOS.

ANDARA MUITO, E JÁ COMEÇAVA A SE CANSAR. PRECISOU, ENTÃO, PARAR E RESOLVEU DAR UMA COCHILADINHA. E SABEM ONDE? BEM NA FRENTE DA CAVERNA EM QUE ESTAVAM ESCONDIDOS OS IRMÃOS.

POLEGAR PENSOU RÁPIDO E, APROVEITANDO O SONO DO INIMIGO, MANDOU OS OUTROS SEIS FUGIREM. DEPOIS, APROXIMOU-SE DO GIGANTE E, COM MUITO CUIDADO PARA NÃO ACORDAR O GULOSO, DESCALÇOU-LHE AS BOTAS MÁGICAS.

ERAM IMENSOS AQUELES CALÇADOS DO GIGANTE, MAS, POR SEREM MÁGICOS, LOGO SE AJUSTARAM AOS PÉS PEQUENININHOS DO NOVO DONO.

— AGORA SIM! — DISSE DECIDIDO. — ANDAREI PELO MUNDO ATÉ ENCONTRARUM MODO DE MELHORAR NOSSAS VIDAS.

PARTIU, CALÇADO COM AS BOTAS QUE, A CADA PASSO, PERCORRIAM SETE LÉGUAS. ANDOU MUITO, MUITO MESMO, MAIS QUE O PRÓPRIO GIGANTE. APÓS ALGUMAS HORAS, CHEGOU A UM REINO DISTANTE, QUE ESTAVA EM GUERRA.

LOGO SOUBE QUE O REI DALI RECOMPENSARIA COM UMA FORTUNA A PESSOA QUE LHE TROUXESSE QUALQUER INFORMAÇÃO SOBRE AS TROPAS E AS BATALHAS. ESPERTO COMO ERA, POLEGAR FOI PARA A REGIÃO DO COMBATE, AUXILIADO PELAS BOTAS VELOZES.

QUANDO RETORNOU, LEVOU EXCELENTES INFORMAÇÕES PARA O REI QUE, MUITO SATISFEITO, PAGOU-LHE O COMBINADO. E AINDA LHE DEU MAIS ALGUMAS CENTENAS DE MOEDAS.

NO DIA SEGUINTE, POLEGARZINHO CALÇOU DE NOVO AS BOTAS MÁGICAS E, EM UM PISCAR DE OLHOS, ALCANÇOU A CABANA DOS PAIS, ONDE FOI ACOLHIDO COM ENORME ALEGRIA POR TODOS, INCLUSIVE PELOS SEUS IRMÃOS, QUE TINHAM CONSEGUIDO VOLTAR.

ASSIM, GRAÇAS AO PEQUENO E INTELIGENTE POLEGAR, TODOS VIVERAM FELIZES DESDE AQUELE DIA, COM MUITA FARTURA.

(ESCREVA NOS COMENTÁRIOS O QUE ACHOU DA HISTÓRIA E QUAL A MORAL)

O GATO DE BOTAS - IRMÃOS GRIMM

    O GATO DE BOTAS

IRMÃOS GRIMM

UM LAVRADOR TRABALHARA MUITO, DURANTE A VIDA TODA, GANHANDO SEMPRE O SUFICIENTE PARA O SUSTENTO DA FAMÍLIA. QUANDO FALECEU, DEIXOU SUA HERANÇA PARA OS FILHOS: UM SÍTIO, UM BURRINHO E UM GATO. AO FILHO MAIS VELHO COUBE O SÍTIO; AO SEGUNDO, O BURRINHO; E O CAÇULA FICOU COM O GATO.

ESTE ÚLTIMO, NADA SATISFEITO COM O QUE LHE COUBERA, RESMUNGOU: “MEUS IRMÃOS SOBREVIVERÃO HONESTAMENTE”. MAS E EU? O QUE VOU FAZER? TALVEZ POSSA JANTAR O GATO E COM O COURO FAZER UM TAMBORIM. MAS E DEPOIS?”. O GATO LOGO ENDIREITOU AS ORELHAS, QUERENDO OUVIR MELHOR UM ASSUNTO DE TAMANHO INTERESSE. ENTÃO, PERCEBENDO QUE PRECISAVA AGIR, FOI DIZENDO:

— NÃO SE DESESPERE, PATRÃOZINHO, POIS EU TENHO UM PLANO. CONSIGA-ME UM PAR DE BOTAS E UM SACO DE PANO E DEIXE O RESTO COMIGO.

O JOVEM ACHOU QUE VALERIA A PENA TENTAR; AFINAL, O GATO PARECIA INTELIGENTE E ASTUTO. DEU-LHE ENTÃO UM SACO E UM PAR DE BOTAS, DESEJOU-LHE MUITO BOA SORTE E DEIXOU-O PARTIR.

O GATO DIRIGIU-SE A UMA MATA NA QUAL SABIA QUE VIVIAM COELHOS DE CARNE DELICIOSA. MAS ERAM BICHOS DIFÍCEIS DE APANHAR. O ESPERTO BICHANO ENFIOU NO SACO UM PUNHADO DE FARELO E OUTRO DE CAPIM. DEIXOU O SACO NO CHÃO E FICOU BEM PERTINHO, IMÓVEL, À ESPERA DE QUE ALGUM COELHO JOVEM E INEXPERIENTE CAÍSSE NA ARAPUCA.

NOSSO GATO ESPEROU PACIENTEMENTE. POR FIM, VIU SUAS ESPERANÇAS SE TORNAREM REALIDADE: UM COELHINHO SE ENFIOU NO SACO, ATRAÍDO PELO CHEIRO DO FARELO, E COMEÇOU A COMER TRANQUILA E GOSTOSAMENTE.

RÁPIDO COMO UM RELÂMPAGO, O FELINO PASSOU UM CORDÃO NA ABERTURA DO SACO E PRENDEU O COELHO. COM A CAÇA NAS COSTAS, DIRIGIU-SE AO PALÁCIO REAL.

— QUERO FALAR COM O REI — DISSE AOS GUARDAS, COM ARES DE MUITA IMPORTÂNCIA.

FOI CONDUZIDO À PRESENÇA REAL. AFINAL, NÃO ERA SEMPRE QUE APARECIA UM GATO PEDINDO AUDIÊNCIA.

NA PRESENÇA DO SOBERANO, O GATO SE CURVOU EM RESPEITOSO CUMPRIMENTO.

— MAJESTADE! MEU PATRÃO, O MARQUÊS DE SACOBOTAS, ENCARREGOU-ME DE OFERECER-LHE ESTE COELHO, CAÇADO NAS MATAS DE PROPRIEDADE DELE.

O REI, QUE APRECIAVA MUITO CARNE DE COELHO, ALEGROU-SE COM O PRESENTE:

— DIGA A SEU PATRÃO QUE AGRADEÇO MUITO A GENTILEZA.

ALGUNS DIAS DEPOIS, O GATO APANHOU DUAS GRANDES ROLINHAS NUMA EMBOSCADA, NUM CAMPO DE MILHO. GUARDOU AS AVES NO SACO E FOI LOGO LEVÁ-LAS AO REI.

O REI ACEITOU COM TODO PRAZER ESSA SEGUNDA OFERTA, POIS ADORAVA CARNE DE ROLINHA!

NOS MESES SEGUINTES, O GATO CONTINUOU INDO À CORTE PARA LEVAR CAÇAS AO REI, SEMPRE AGRADANDO MUITO AO PALADAR DO SOBERANO. A CADA NOVO PRESENTE, AFIRMAVA QUE AS CARNES VINHAM DAS TERRAS DE SEU PATRÃO, O MARQUÊS DE SACOBOTAS.

UM DIA, QUANDO ESTAVA SAINDO DO PALÁCIO, ESCUTOU A CONVERSA DE DOIS CRIADOS:

— AMANHÃ O REI PASSARÁ DE CARRUAGEM PELAS MARGENS DO RIO, JUNTO COM SUA FILHA, A MAIS BELA MOÇA DE TODO O REINO.

O GATO CORREU LOGO AO PATRÃO, DIZENDO:

— PATRÃOZINHO, SE SEGUIR MEUS CONSELHOS PODERÁ SE TORNAR RICO, NOBRE E FELIZ.

— E O QUE DEVEREI FAZER? — PERGUNTOU O JOVEM PATRÃO, CONFIANTE NO GATO QUE HERDARA.

— AMANHÃ VOCÊ DEVERÁ IR AO RIO E TOMAR BANHO NO LUGAR EXATO EM QUE EU INDICAR. O RESTO, DEIXE COMIGO.

NO DIA SEGUINTE, ENQUANTO SE BANHAVA NAS ÁGUAS DO RIO, O RAPAZ VIU SE APROXIMAR O REI, ACOMPANHADO PELA PRINCESA E POR ALGUNS NOBRES. O GATO, QUE LÁ ESTAVA À ESPERA, SAIU DE TRÁS DE UMA MOITA E COMEÇOU A GRITAR, COM TODO O FÔLEGO:

— SOCORRO! SOCORRO! AJUDEM O MARQUÊS DE SACOBOTAS, ELE ESTÁ SE AFOGANDO NO RIO! AJUDEM!

O REI ESCUTOU OS GRITOS E RECONHECEU O GATO QUE TANTAS VEZES LHE LEVARA CARNES DELICIOSAS. IMEDIATAMENTE DEU ORDEM AOS GUARDAS PARA QUE CORRESSEM E ACUDISSEM O MARQUÊS DE SACOBOTAS.

ENQUANTO O JOVEM ESTAVA SENDO RETIRADO DO RIO, NOSSO GATO SE APROXIMOU DA CARRUAGEM REAL DIZENDO, COM O AR MAIS ENTRISTECIDO DO MUNDO:

— MAJESTADE, MEU PATRÃO ESTAVA TOMANDO BANHO NO RIO E CHEGARAM UNS LADRÕES, QUE LEVARAM TODA A ROUPA DELE. E AGORA, COMO ELE PODERÁ APRESENTAR-SE A VOSSA MAJESTADE INTEIRAMENTE NÚ?

NA VERDADE, O GATO, MUITO VIVO, HAVIA ESCONDIDO OS TRAPOS DO MOÇO EMBAIXO DE UMAS PEDRAS… MAS O REI, PENALIZADO, ORDENOU A UM DE SEUS GUARDAS QUE CORRESSE AO PALÁCIO E PEGASSE UMAS ROUPAS PARA O POBRE MARQUÊS ESPOLIADO.

A ROUPA TRAZIDA ERA ESPLÊNDIDA. COM ELA, O FALSO MARQUÊS, QUE ALIÁS ERA UM JOVEM BEM BONITO, FICOU COM ÓTIMA APARÊNCIA. LOGO A PRINCESA SE APAIXONOU PELO JOVEM, E O REI CONVIDOU-O A SUBIR NA CARRUAGEM, PARA JUNTOS CONTINUAREM O PASSEIO.

MAS E O GATO? O GATO, CONTENTE COM O SUCESSO INICIAL DE SEU PROJETO, CORREU NA FRENTE DA CARRUAGEM, QUE AVANÇAVA LENTAMENTE.

UM POUCO ADIANTE, VIU UM GRUPO DE LAVRADORES CAPINANDO. O GATO FEZ UMACARETA BEM FEIA E GRITOU COM UM VOZEIRÃO AMEAÇADOR:

— ATENÇÃO! O REI PASSARÁ AQUI JÁ, JÁ! SE VOCÊS NÃO DISSEREM QUE ESSE CAMPO PERTENCE AO MARQUÊS DE SACOBOTAS, SERÃO TODOS DEMITIDOS!

ASSUSTADÍSSIMOS, OS COITADOS JURARAM QUE OBEDECERIAM. QUANDO O REI, CURIOSO, PERGUNTOU AOS LAVRADORES A QUEM PERTENCIA AQUELE BELO CAMPO, ESTES RESPONDERAM A UMA SÓ VOZ:

— AO SENHOR MARQUÊS DE SACOBOTAS!

E O REI PARABENIZOU SEU CONVIDADO PELA BELEZA E FERTILIDADE DE SUAS TERRAS.

ENQUANTO ISSO, NOSSO GATO, SEMPRE BEM À FRENTE DA COMITIVA REAL, PAROU NUM CANAVIAL EM QUE CAMPONESES CEIFAVAM.

— ATENÇÃO! DAQUI A POUCO O REI PASSARÁ POR AQUI. VOCÊS VÃO DIZER A ELE QUE ESTE CANAVIAL PERTENCE AO MARQUÊS DE SACOBOTAS. SE NÃO DISSEREM, SERÃO TODOS PRESOS.

ASSUSTADOS, OS CORTADORES DE CANA PROMETERAM OBEDECER.

E ASSIM FIZERAM TAMBÉM OS CRIADORES DE PORCOS, OS VAQUEIROS, OS CULTIVADORES DE UVAS E TANTOS MAIS QUE O GATO ENCONTROU EM SEU CAMINHO.

TUDO PERTENCIA AO MARQUÊS DE SACOBOTAS! E A ESTIMA DO REI PELO NOVO NOBRE CRESCIA A CADA QUILÔMETRO PERCORRIDO.

SEMPRE À FRENTE, O GATO CHEGOU A UM CASTELO NO QUAL VIVIA UM TERRÍVEL MAGO, MUITO RICO. A ELE PERTENCIAM TODAS AS TERRAS QUE O ESPERTO GATO ATRIBUÍRA AO MARQUÊS DE SACOBOTAS!

O GATO SEM DÚVIDA PRECISAVA, COM URGÊNCIA, DE UMA NOVA IDEIA BRILHANTE. COMO IDEIAS NÃO LHE FALTAVAM, PENSOU UM POUQUINHO E PEDIU PARA SER LEVADO À PRESENÇA DO MAGO.

ASSIM QUE CHEGOU AO SALÃO, CURVOU-SE RESPEITOSAMENTE E COMEÇOU A FAZER ELOGIOS:

— EU ESTAVA PASSANDO POR ESTAS BANDAS, MEU SENHOR, E ACHEI QUE ERA MEU DEVER HOMENAGEAR O MAIS PODEROSO MAGO DA REGIÃO. OUVI FALAR QUE O SENHOR PODE SE TRANSFORMAR EM QUALQUER ANIMAL. MAS EU DUVIDO QUE ISTO SEJA VERDADE.

— QUER VER? — RESPONDEU O MAGO, IRRITADO COM A PROVOCAÇÃO.

EM UM INSTANTE, NO LUGAR DO MAGO ESTAVA UM LEÃO RUGINDO, COM SUA GRANDE BOCA ABERTA. O GATO LEVOU TAMANHO SUSTO QUE POR POUCO NÃO CAIU PARA TRÁS!

— E AGORA, ESTÁ CONVENCIDO, SEU GATO?

— BEM, SENHOR, ATÉ CERTO PONTO… NÃO DEVE TER SIDO TÃO DIFÍCIL, GRANDALHÃO COMO É, TRANSFORMAR-SE EM UM ANIMAL ENORME. EU SÓ QUERIA VER SE CONSEGUIA SE TRANSFORMAR EM UM ANIMAL PEQUENO, COMO UM RATINHO, POR EXEMPLO.

QUE TAL? CONSEGUE?

— EU CONSIGO ME TRANSFORMAR EM QUALQUER ANIMAL, OUVIU BEM? — GRITOU O MAGO.

E LOGO ELE VIROU UM RATINHO, QUE COMEÇOU A CORRER VELOZ PELA SALA TODA.

COM TODA A SUA ASTÚCIA, O GATO DEVOROU-O NUMA SÓ BOCADA.

A CARRUAGEM REAL JÁ ESTAVA CHEGANDO AO CASTELO. O REI, CURIOSO, QUIS VISITÁ-LO.

O MARQUÊS DE SACOBOTAS NEM SABIA O QUE FAZER. POR SORTE, O GATO LOGO APARECEU, CUMPRIMENTANDO:

— BEM-VINDO, MAJESTADE, AO CASTELO DO MARQUÊS DE SACOBOTAS.

O REI FICOU ADMIRADO.

— OH! NÃO ME DIGA, MARQUÊS, QUE TAMBÉM ESTE BELO CASTELO LHE PERTENCE?

E NÃO FALAVA NADA, HEIM?

O REI ENTROU NO CASTELO, ACOMPANHADO PELO MARQUÊS E PELA PRINCESA. NO SALÃO PRINCIPAL DO LUXUOSO CASTELO HAVIA UMA COMPRIDA MESA, NA QUAL JÁ ESTAVA SERVIDO UM MARAVILHOSO BANQUETE. OS RECÉM-CHEGADOS, INCLUSIVE O GATO, COMERAM E BEBERAM A FARTAR, SATISFAZENDO A FOME APÓS TÃO LONGO PASSEIO.

NO FINAL DA REFEIÇÃO, O REI, QUE JÁ ESTAVA PERCEBENDO OS OLHARES APAIXONADOS DA FILHA PARA O JOVEM MARQUÊS, TÃO RICO E TÃO BELO, DISSE:

— MEU CARO MARQUÊS... VEJO QUE MINHA FILHA TEM POR VOCÊ MUITA SIMPATIA.

SE SENTIR O MESMO POR ELA, ENTÃO LHE OFEREÇO SUA MÃO.

NÃO CABENDO EM SI DE FELICIDADE, O JOVEM LOGO RESPONDEU QUE SIM.

NAQUELE MESMO DIA FORAM CELEBRADAS AS BODAS, E O FILHO DO LAVRADOR SE TORNOU PRÍNCIPE.

E O GATO, AUTOR DE TANTA FORTUNA? ELE SE TORNOU UM SENHOR… E, SE DE VEZ EM QUANDO CAÇAVA ALGUM RATO, ERA POR PURA DIVERSÃO.


(ESCREVA NOS COMENTÁRIOS O QUE ACHOU DA HISTÓRIA E QUAL A MORAL)

RUMPELSTICHEN - IRMÃOS GRIMM

 

RUMPELSTICHEN

IRMÃOS GRIMM

ERA UMA VEZ UM MOLEIRO MUITO POBRE, QUE TINHA UMA FILHA LINDA. UM DIA ELE SE ENCONTROU COM O REI E, PARA SE DAR IMPORTÂNCIA, DISSE QUE SUA FILHA SABIA FIAR PALHA, TRANSFORMANDO-A EM OURO.

— ESTA É UMA HABILIDADE QUE ME ENCANTA — DISSE O REI. — SE É VERDADE O QUE DIZ, TRAGA SUA FILHA AMANHÃ CEDO AO CASTELO. EU QUERO PÔ-LA À PROVA.

NO DIA SEGUINTE, QUANDO A MOÇA CHEGOU, O REI LEVOU-A PARA UM QUARTINHO CHEIO DE PALHA, ENTREGOU-LHE UMA ROCA E ALGUMAS BOBINAS E DISSE:

— AGORA, PONHA-SE A TRABALHAR. SE ATÉ AMANHÃ CEDO NÃO TIVER FIADO TODA ESTA PALHA EM OURO, VOCÊ MORRERÁ! — DEPOIS SAIU, TRANCOU A PORTA E DEIXOU A FILHA DO MOLEIRO SOZINHA.

A POBRE MOÇA SENTOU-SE NUM CANTO E, POR MUITO TEMPO, FICOU PENSANDO NO QUE FAZER. NÃO TINHA A MENOR IDEIA DE COMO FIAR PALHA EM OURO E NÃO VIA JEITO DE ESCAPAR DA MORTE. O PAVOR TOMOU CONTA DA JOVEM, QUE COMEÇOU A CHORAR DESESPERADAMENTE. DE REPENTE, A PORTA SE ABRIU E ENTROU UM ANÃOZINHO MUITO ESQUISITO.

— BOA TARDE, MINHA LINDA MENINA! — DISSE ELE. — POR QUE CHORA TANTO?

— AH! — RESPONDEU A MOÇA ENTRE SOLUÇOS. — O REI ME MANDOU FIAR TODA ESTA PALHA EM OURO. NÃO SEI COMO FAZER ISSO!

— E SE EU FIAR PARA VOCÊ? O QUE ME DARÁ EM TROCA?

— DOU-LHE O MEU COLAR.

O ANÃOZINHO PEGOU O COLAR, SENTOU-SE DIANTE DA ROCA E ZUM-ZUM-ZUM: GIROU-A TRÊS VEZES E A BOBINA FICOU CHEIA DE OURO. ENTÃO COMEÇOU DE NOVO, GIROU A ROCA TRÊS VEZES E A SEGUNDA BOBINA FICOU CHEIA TAMBÉM. VAROU A NOITE TRABALHANDO ASSIM E, QUANDO ACABOU DE FIAR TODA A PALHA E AS BOBINAS FICARAM CHEIAS DE OURO, SUMIU.

NO DIA SEGUINTE, MAL O SOL APARECEU, O REI CHEGOU E ARREGALOU OS OLHOS, ASSOMBRADO E FELIZ AO VER TODO AQUELE OURO. CONTUDO, SEU AMBICIOSO CORAÇÃO NÃO SE SATISFEZ.

LEVOU A FILHA DO MOLEIRO PARA OUTRO QUARTO UM POUCO MAIOR, TAMBÉM CHEIO DE PALHA, E ORDENOU-LHE QUE ENCHESSE AS BOBINAS DE OURO, CASO QUISESSE CONTINUAR VIVA.

A POBRE MOÇA FICOU SENTADA OLHANDO A PALHA, SEM SABER O QUE FAZER.

“AH… SE O ANÃOZINHO VOLTASSE…”, PENSOU, QUERENDO CHORAR. NESSE INSTANTE A PORTA SE ABRIU E ELE ENTROU.

— O QUE VOCÊ ME DÁ, SE EU FIAR A PALHA? — PERGUNTOU.

— DOU-LHE MEU ANEL.

ELE PEGOU O ANEL E SE PÔS A TRABALHAR. A CADA TRÊS VOLTAS DA ROCA, UMA BOBINA SE ENCHIA DE OURO.

NO OUTRO DIA, QUANDO O REI CHEGOU E VIU AS BOBINAS RELUZINDO DE OURO, FICOU MAIS RADIANTE. MAS AINDA DESSA VEZ NÃO SE CONTENTOU. LEVOU A MOÇA PARA OUTRO QUARTO AINDA MAIOR, TAMBÉM CHEIO DE PALHA, E DISSE:

— VOCÊ VAI FIAR ESTA NOITE. SE PUDER REPETIR ESSA MARAVILHA, QUERO QUE SEJA MINHA ESPOSA.

O REI SAIU, PENSANDO: “SERÁ QUE ELA É MESMO FILHA DO MOLEIRO? BAH! O QUE IMPORTA É QUE VOU ME CASAR COM A MULHER MAIS RICA DO MUNDO!”.

QUANDO A MOÇA FICOU SOZINHA, O ANÃOZINHO APARECEU PELA TERCEIRA VEZ E PERGUNTOU:

— O QUE VOCÊ ME DÁ, SE AINDA DESSA VEZ EU FIAR A PALHA?

— EU NÃO TENHO MAIS NADA…

— SE É ASSIM, PROMETA QUE ME DARÁ SEU PRIMEIRO FILHO, SE VOCÊ SE TORNAR RAINHA.

“ISSO NUNCA VAI ACONTECER”, PENSOU A FILHA DO MOLEIRO. E, NÃO TENDO SAÍDA, PROMETEU AO ANÃOZINHO O QUE ELE QUIS. IMEDIATAMENTE ELE SE PÔS A TRABALHAR, GIRANDO A ROCA A NOITE INTEIRA.

DE MANHÃZINHA, QUANDO O REI ENTROU NO QUARTO, ENCONTROU PRONTINHO O QUE HAVIA EXIGIDO. CUMPRINDO SUA PALAVRA, CASOU-SE COM A BELA FILHA DO MOLEIRO, QUE ASSIM SE TORNOU RAINHA.

UM ANO DEPOIS, ELA DEU À LUZ UMA LINDA CRIANÇA. JÁ NEM SE LEMBRAVA MAIS DO MISTERIOSO ANÃOZINHO. MAS NAQUELE MESMO DIA, A PORTA SE ABRIU REPENTINAMENTE E ELE ENTROU.

— VIM BUSCAR O QUE VOCÊ ME PROMETEU — DISSE.  A RAINHA FICOU APAVORADA E OFERECEU-LHE TODAS AS RIQUEZAS DO REINO, SE ELE A DEIXASSE FICAR COM A CRIANÇA. MAS ELE NÃO QUIS.

— NÃO! UMA COISA VIVA VALE MUITO MAIS PARA MIM QUE TODOS OS TESOUROS

DO MUNDO!

A RAINHA FICOU DESESPERADA; TANTO CHOROU E SE LAMENTOU QUE O ANÃOZINHO ACABOU FICANDO COM PENA.

— ESTÁ BEM — DISSE. — VOU LHE DAR TRÊS DIAS. SE NO FIM DESSE PRAZO VOCÊ ADIVINHAR O MEU NOME, PODERÁ FICAR COM A CRIANÇA.

A RAINHA PASSOU A NOITE LEMBRANDO OS NOMES QUE CONHECIA E MANDOU UM MENSAGEIRO PERCORRER O REINO EM BUSCA DE NOVOS NOMES.

NA MANHÃ SEGUINTE, QUANDO O ANÃOZINHO CHEGOU, ELA FOI DIZENDO:

— GASPAR, MELQUIOR, BALTAZAR — E ASSIM CONTINUOU, FALANDO TODOS OS NOMES ANOTADOS. MAS A CADA UM DELES O ANÃO RESPONDIA BALANÇANDO A CABEÇA:

— NÃO É ESSE MEU NOME!

NO SEGUNDO DIA, A RAINHA PEDIU ÀS PESSOAS DA VIZINHANÇA QUE LHE DESSEM SEUS APELIDOS, E FEZ UMA LISTA DOS NOMES MAIS ESQUISITOS, COMO: JOÃO DAS LONJURAS, CARABELASSIM, PERNIL-MAL-ASSADO E OUTROS. MAS A TODOS A RESPOSTA DO ANÃO ERA A MESMA:

— NÃO É ESSE MEU NOME!

NO TERCEIRO DIA, O MENSAGEIRO QUE ANDAVA PELO REINO À CATA DE NOVOS NOMES VOLTOU E DISSE:

— NÃO DESCOBRI UM SÓ NOME NOVO. MAS EU ESTAVA ANDANDO POR UM BOSQUE NO ALTO DE UM MONTE, ONDE RAPOSAS E COELHOS DIZEM BOA-NOITE UNS AOS OUTROS, QUANDO VI UMA CABANA. DIANTE DA PORTA ARDIA UMA FOGUEIRINHA E UM ANÃO MUITO ESQUISITO, PULANDO NUM PÉ SÓ AO REDOR DO FOGO, CANTAVA:

— HOJE EU FRITO! AMANHÃ EU COZINHO!

DEPOIS DE AMANHÃ SERÁ MEU O FILHO DA RAINHA!

COISA BOA É NINGUÉM SABER QUE MEU NOME É RUMPELSTICHEN!

PODE-SE IMAGINAR A ALEGRIA DA RAINHA QUANDO OUVIU ESSE NOME. E QUANDO UM POUCO MAIS TARDE O ANÃOZINHO VEIO E PERGUNTOU:

— ENTÃO, SENHORA RAINHA, QUAL É MEU NOME?

ELA DISSE ANTES:

— SERÁ FULANO?

— NÃO!

— SERÁ BELTRANO?

— NÃO!

— SERÁ POR ACASO RUMPELSTICHEN?

— FOI O DIABO QUE TE CONTOU! — GRITOU O ANÃOZINHO FURIOSO.

E BATEU O PÉ DIREITO COM TANTA FORÇA NO CHÃO QUE AFUNDOU ATÉ A VIRILHA. DEPOIS, TENTANDO TIRAR O PÉ DO BURACO, AGARROU COM AMBAS AS MÃOS O PÉ ESQUERDO E PUXOU-O PARA CIMA COM TAL VIOLÊNCIA QUE SEU CORPO SE RASGOU EM DOIS. ENTÃO, DESAPARECEU.


(ESCREVA NOS COMENTÁRIOS O QUE ACHOU DA HISTÓRIA E QUAL A MORAL)

BRANCA DE NEVE - IRMÃOS GRIMM

 

BRANCA DE NEVE

IRMÃOS GRIMM

UM DIA, A RAINHA DE UM REINO BEM DISTANTE BORDAVA PERTO DA JANELA DO CASTELO, UMA GRANDE JANELA COM BATENTES DE ÉBANO — UMA MADEIRA ESCURÍSSIMA. ERA INVERNO E NEVAVA MUITO FORTE. A CERTA ALTURA, A RAINHA DESVIOU O OLHAR PARA ADMIRAR OS FLOCOS DE NEVE QUE DANÇAVAM NO AR; MAS COM ISSO SE DISTRAIU E FUROU O DEDO COM A AGULHA.

NA NEVE QUE TINHA CAÍDO NO BEIRAL DA JANELA PINGARAM TRÊS GOTINHAS DE SANGUE. O CONTRASTE FOI TÃO LINDO QUE A RAINHA MURMUROU:

— PUDESSE EU TER UMA MENINA BRANQUINHA COMO A NEVE, COM LÁBIOS VERMELHOS COMO O SANGUE E COM OS CABELOS NEGROS COMO O ÉBANO…

ALGUNS MESES DEPOIS, O DESEJO DA RAINHA FOI ATENDIDO. ELA DEU À LUZ UMA MENINA DE CABELOS BEM PRETOS, PELE BRANCA E LÁBIOS VERMELHOS. O NOME DADO À PRINCESINHA FOI BRANCA DE NEVE.

MAS QUANDO NASCEU A MENINA, A RAINHA MORREU. PASSADO UM ANO, O REI SE CASOU NOVAMENTE. SUA ESPOSA ERA LINDÍSSIMA, MAS MUITO VAIDOSA, INVEJOSA E CRUEL.

UM CERTO FEITICEIRO LHE DERA UM ESPELHO MÁGICO, AO QUAL TODOS OS DIAS ELA PERGUNTAVA, COM VAIDADE:

— ESPELHO, ESPELHO MEU, DIGA-ME SE HÁ NO MUNDO MULHER MAIS BELA DO QUE EU.

E O ESPELHO RESPONDIA:

— EM TODO O MUNDO, MINHA QUERIDA RAINHA, NÃO EXISTE BELEZA MAIOR.

O TEMPO PASSOU. BRANCA DE NEVE CRESCEU, A CADA ANO MAIS LINDA… E UM DIA O ESPELHO DEU OUTRA RESPOSTA À RAINHA.

— A SUA ENTEADA, BRANCA DE NEVE, É AGORA A MAIS BELA.

INVEJOSA E CIUMENTA, A RAINHA CHAMOU UM DE SEUS GUARDAS E LHE ORDENOU QUE LEVASSE A ENTEADA PARA A MATA E LÁ A MATASSE. E QUE TROUXESSE O CORAÇÃO DE BRANCA DE NEVE, COMO PROVA DE QUE A MISSÃO FORA CUMPRIDA.

O GUARDA OBEDECEU. MAS, QUANDO CHEGOU À MATA, NÃO TEVE CORAGEM DE ENFIAR A FACA NAQUELA LINDÍSSIMA JOVEM INOCENTE QUE, AFINAL, NUNCA FIZERA MAL A NINGUÉM. DEIXOU-A FUGIR. PARA ENGANAR A RAINHA, MATOU UM VEADINHO, TIROU O CORAÇÃO E ENTREGOU-O A ELA, QUE QUASE EXPLODIU DE ALEGRIA E SATISFAÇÃO.

ENQUANTO ISSO, BRANCA DE NEVE FUGIA, PENETRANDO CADA VEZ MAIS NA MATA, ANSIOSA POR SE DISTANCIAR DA MADRASTA E DA MORTE.

OS ANIMAIS CHEGAVAM BEM PERTO, SEM A ATACAR; OS GALHOS DAS ÁRVORES SE ABRIAM PARA QUE ELA PASSASSE.

AO ANOITECER, QUANDO JÁ NÃO SE AGUENTAVA MAIS EM PÉ DE TANTO CANSAÇO, BRANCA DE NEVE VIU NUMA CLAREIRA UMA CASA BEM PEQUENA E ENTROU PARA DESCANSAR UM POUQUINHO.

OLHOU EM VOLTA E FICOU ADMIRADA: HAVIA UMA MESINHA POSTA COM MINÚSCULOS SETE PRATINHOS, SETE COPINHOS, SETE COLHEREZINHAS E SETE GARFINHOS. NO CÔMODO SUPERIOR ESTAVAM ALINHADAS SETE CAMINHAS, COM COBERTAS MUITO BRANCAS.

BRANCA DE NEVE ESTAVA COM FOME E SEDE. EXPERIMENTOU, ENTÃO, UMA COLHER DA SOPA DE CADA PRATINHO, TOMOU UM GOLE DO VINHO DE CADA COPINHO E DEITOU-SE EM CADA CAMINHA, ATÉ ENCONTRAR A MAIS CONFORTÁVEL. NELA SE AJEITOU E DORMIU PROFUNDAMENTE.

OS DONOS DA CASA VOLTARAM TARDE DA NOITE; ERAM SETE ANÕES QUE TRABALHAVAM NUMA MINA DE DIAMANTES, DENTRO DA MONTANHA.

LOGO QUE ENTRARAM, VIRAM QUE FALTAVA UM POUCO DE SOPA NOS PRATOS, QUE OS COPOS NÃO ESTAVAM CHEIOS DE VINHO… ESTRANHO.

LÁ EM CIMA, NAS CAMAS, AS COBERTAS ESTAVAM MEXIDAS… E NA ÚLTIMA CAMA — SURPRESA MAIOR! —ESTAVA ADORMECIDA UMA LINDA DONZELA DE CABELOS PRETOS, PELE BRANCA COMO A NEVE E LÁBIOS VERMELHOS COMO O SANGUE.

— COMO É LINDA! — MURMURARAM EM CORO.

— E COMO DEVE ESTAR CANSADA — DISSE UM DELES —, JÁ QUE DORME ASSIM.

DECIDIRAM NÃO INCOMODAR; O ANÃO DONO DA CAMINHA ONDE DORMIA A DONZELA PASSARIA A NOITE NUMA POLTRONA.

NA MANHÃ SEGUINTE, QUANDO DESPERTOU, BRANCA DE NEVE SE VIU CERCADA PELOS SETE ANÕES BARBUDINHOS E SE ASSUSTOU. MAS ELES LOGO A ACALMARAM, DIZENDO-LHE QUE ERA MUITO BEM-VINDA.

— COMO SE CHAMA? — PERGUNTARAM.

— BRANCA DE NEVE.

— MAS COMO VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI, TÃO LONGE, NO CORAÇÃO DA FLORESTA?

BRANCA DE NEVE CONTOU TUDO. FALOU DA CRUELDADE DA MADRASTA, DA SUA ORDEM PARA MATÁ-LA, DA PIEDADE DO CAÇADOR QUE A DEIXARA FUGIR, DESOBEDECENDO À RAINHA, E DE SUA CAMINHADA PELA MATA ATÉ ENCONTRAR AQUELA CASINHA.

— FIQUE AQUI, SE GOSTAR… — PROPÔS O ANÃO MAIS VELHO.

— VOCÊ PODERIA CUIDAR DA CASA, ENQUANTO NÓS ESTAMOS NA MINA, TRABALHANDO.

MAS TOME CUIDADO ENQUANTO ESTIVER SOZINHA. CEDO OU TARDE, SUA MADRASTA DESCOBRIRÁ ONDE VOCÊ ESTÁ, E SE ELA A ENCONTRAR… NÃO DEIXE QUE NINGUÉM ENTRE! É MAIS SEGURO.

ASSIM COMEÇOU UMA VIDA NOVA PARA BRANCA DE NEVE, UMA VIDA DE TRABALHO.

E A MADRASTA? ESTAVA FELIZ, CONVENCIDA DE QUE BELEZA DE MULHER ALGUMA SUPERAVA A SUA. MAS, UM DIA, TEVE POR ACASO A IDEIA DE INTERROGAR O ESPELHO MÁGICO:

— ESPELHO, ESPELHO MEU, DIGA-ME SE HÁ NO MUNDO MULHER MAIS BELA DO QUE EU.

E O ESPELHO RESPONDEU COM VOZ GRAVE:

— NA MATA, NA CASA DOS MINEIROS, QUERIDA RAINHA, ESTÁ BRANCA DE NEVE, MAIS BELA QUE NUNCA!

A RAINHA ENTENDEU QUE TINHA SIDO ENGANADA PELO GUARDA: BRANCA DE NEVE AINDA VIVIA! RESOLVEU AGIR POR SI MESMA, PARA QUE NÃO HOUVESSE NO MUNDO INTEIRO MULHER MAIS LINDA DO QUE ELA.

PINTOU O ROSTO, COLOCOU UM LENÇO NA CABEÇA E, IRRECONHECÍVEL, DISFARÇADA DE VELHA MERCADORA, PROCUROU PELA MATA A CASINHA DOS ANÕES. QUANDO ACHOU, BATEU À PORTA E BRANCA DE NEVE, INGENUAMENTE, FOI ATENDER. A MALVADA OFERECEU- LHE SUAS MERCADORIAS, E A PRINCESA APRECIOU UM LINDO CINTO COLORIDO.

— DEIXE-ME AJUDÁ-LA A EXPERIMENTAR O CINTO. VOCÊ FICARÁ COM UMA CINTURA FININHA, FININHA — DISSE A FALSA VENDEDORA, COM UMA RISADA IRÔNICA E ESTRIDENTE, APERTANDO CADA VEZ MAIS O CINTO.

E APERTOU TANTO, TANTO QUE BRANCA DE NEVE SE SENTIU SUFOCADA E DESMAIOU, CAINDO COMO MORTA. A MADRASTA FUGIU.

POUCO DEPOIS, CHEGARAM OS ANÕES. ASSUSTARAM-SE AO VER BRANCA DE NEVE ESTIRADA E IMÓVEL. O ANÃO MAIS JOVEM PERCEBEU O CINTO APERTADO DEMAIS E IMEDIATAMENTE O CORTOU. BRANCA DE NEVE VOLTOU A RESPIRAR E A COR, AOS POUCOS, COMEÇOU A VOLTAR A SUA FACE; MELHOROU E PÔDE CONTAR O OCORRIDO.

— AQUELA VELHA VENDEDORA AMBULANTE ERA A RAINHA DISFARÇADA — DISSERAM LOGO OS ANÕES. — VOCÊ NÃO DEVERIA TÊ-LA DEIXADO ENTRAR. AGORA, SEJA MAIS PRUDENTE.

ENQUANTO ISSO, A PERVERSA RAINHA, JÁ NO CASTELO, CONSULTAVA O ESPELHO MÁGICO E SE SURPREENDEU AO OUVI-LO DIZER:

— NO BOSQUE, NA CASA DOS ANÕES, MINHA QUERIDA RAINHA, HÁ BRANCA DE NEVE, MAIS BELA QUE NUNCA.

SEU PLANO FRACASSARA! TENTARIA NOVAMENTE.

NO DIA SEGUINTE, BRANCA DE NEVE VIU CHEGAR UMA CAMPONESA DE ASPECTO GENTIL, QUE LHE COLOCOU NA JANELA UMA APETITOSA MAÇÃ, SEM DIZER NADA, APENAS SORRINDO UM SORRISO DESDENTADO. A PRINCESINHA NEM SUSPEITOU DE QUE SE TRATAVA DA MADRASTA, NUMA SEGUNDA TENTATIVA.

BRANCA DE NEVE, INGÊNUA E GULOSA, MORDEU A MAÇÃ. ANTES DE ENGOLIR A PRIMEIRA MORDIDA, CAIU IMÓVEL.

DESSA VEZ, DEVIA ESTAR MORTA, POIS O SOCORRO DADO PELOS ANÕES, QUANDO REGRESSARAM DA MINA, NADA RESOLVEU. NÃO ACHARAM CINTO APERTADO, NEM FERIMENTO ALGUM, APENAS O CORPO CAÍDO.

BRANCA DE NEVE PARECIA DORMIR; ESTAVA TÃO LINDA QUE OS BONS ANÕEZINHOS NÃO QUISERAM ENTERRÁ-LA.

— VAMOS CONSTRUIR UM CAIXÃO DE CRISTAL PARA A NOSSA BRANCA DE NEVE, ASSIM PODEREMOS ADMIRÁ-LA SEMPRE.

O ESQUIFE DE CRISTAL FOI CONSTRUÍDO E LEVADO AO TOPO DA MONTANHA. NA TAMPA, EM DOURADO, ESCREVERAM: “BRANCA DE NEVE, FILHA DE REI”.

OS ANÕES GUARDAVAM O CAIXÃO DIA E NOITE, E TAMBÉM OS ANIMAIZINHOS DA MATA – VEADINHOS, ESQUILOS E LEBRES — TODOS CHORAVAM POR BRANCA DE NEVE.

LÁ NO CASTELO, A MALVADA RAINHA INTERROGAVA O ESPELHO MÁGICO:

— ESPELHO, ESPELHO MEU, DIGA-ME SE HÁ NO MUNDO MULHER MAIS BELA DO QUE EU.

A RESPOSTA ERA INVARIÁVEL.

— EM TODO O MUNDO, NÃO EXISTE BELEZA MAIOR.

BRANCA DE NEVE PARECIA DORMIR NO CAIXÃO DE CRISTAL: O ROSTO BRANCO COMO A NEVE, DE LÁBIOS VERMELHOS COMO SANGUE, EMOLDURADO PELOS CABELOS NEGROS COMO ÉBANO. CONTINUAVA TÃO LINDA COMO ENQUANTO VIVIA.

UM DIA, UM JOVEM PRÍNCIPE QUE CAÇAVA POR ALI PASSOU NO TOPO DA MONTANHA.

BASTOU VER O CORPO DE BRANCA DE NEVE PARA SE APAIXONAR, APESAR DE A DONZELA ESTAR MORTA. PEDIU PERMISSÃO AOS ANÕES PARA LEVAR CONSIGO O CAIXÃO DE CRISTAL.

HAVIA TANTA PAIXÃO, TANTA DOR E TANTO DESESPERO NA VOZ DO PRÍNCIPE QUE OS ANÕES FICARAM COMOVIDOS E CONSENTIRAM.

— ESTÁ BEM. NÓS O AJUDAREMOS A TRANSPORTÁ-LA PARA O VALE. A DONZELA BRANCA DE NEVE SERÁ SUA.

COM O CAIXÃO NAS COSTAS, PUSERAM-SE A CAMINHO. ENQUANTO DESCIAM POR UM CAMINHO ÍNGREME, UM ANÃO TROPEÇOU NUMA PEDRA E QUASE CAIU. REEQUILIBROU-SE A TEMPO.

O ABALO DO CAIXÃO, PORÉM, FEZ COM QUE O PEDAÇO DA MAÇÃ ENVENENADA, QUE BRANCA DE NEVE TRAZIA AINDA NA BOCA, CAÍSSE. ASSIM A DONZELA SE REANIMOU.

ABRINDO OS OLHOS E SUSPIRANDO, SENTOU-SE E, ADMIRADA, QUIS SABER:

— O QUE ACONTECEU? ONDE ESTOU?

O PRÍNCIPE E OS ANÕES, FELIZES, EXPLICARAM TUDO.

O PRÍNCIPE DECLAROU-SE A BRANCA DE NEVE E PEDIU-A EM CASAMENTO. BRANCA DE NEVE ACEITOU, FELICÍSSIMA. FORAM PARA O PALÁCIO REAL, ONDE TODA A CORTE OS RECEBEU.

FORAM DISTRIBUÍDOS OS CONVITES PARA A CERIMÔNIA NUPCIAL. ENTRE OS CONVIDADOS ESTAVA A RAINHA MADRASTA — MAS ELA MAL SABIA QUE A NOIVA ERA SUA ENTEADA.

VESTIU-SE A MEGERA SUNTUOSAMENTE, PÔS MUITAS JÓIAS E, ANTES DE SAIR, INTERROGOU O ESPELHO MÁGICO:

— ESPELHO, ESPELHO MEU, DIGA-ME SE HÁ NO MUNDO MULHER MAIS BELA DO QUE EU.

E O FIEL ESPELHO:

— NO SEU REINO, A MAIS BELA É VOCÊ; MAS A NOIVA BRANCA DE NEVE É A MAIS BELA DO MUNDO.

LOUCA DE RAIVA, A RAINHA SAIU APRESSADA PARA A CERIMÔNIA. LÁ CHEGANDO, AO VER BRANCA DE NEVE, SOFREU UM ATAQUE: O CORAÇÃO EXPLODIU E O CORPO ESTOUROU, TAMANHA ERA SUA IRA. MAS OS FESTEJOS NÃO CESSARAM UM SÓ INSTANTE.

E OS ANÕES, CONVIDADOS DE HONRA, COMERAM, CANTARAM E DANÇARAM TRÊS DIAS E TRÊS NOITES. DEPOIS, RETORNARAM PARA SUA CASINHA E SUA MINA, NO CORAÇÃO DA MATA.


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JOÃO E MARIA - IRMÃOS GRIMM

 

JOÃO E MARIA

IRMÃOS GRIMM

ÀS MARGENS DE UMA EXTENSA MATA EXISTIA, HÁ MUITO TEMPO, UMA CABANA POBRE, FEITA DE TRONCOS DE ÁRVORE, NA QUAL MORAVA UM LENHADOR COM SUA SEGUNDA ESPOSA E SEUS DOIS FILHINHOS, NASCIDOS DO PRIMEIRO CASAMENTO. O GAROTO CHAMAVA-SE JOÃO E A MENINA, MARIA.

A VIDA SEMPRE FORA DIFÍCIL NA CASA DO LENHADOR, MAS NAQUELA ÉPOCA AS COISAS HAVIAM PIORADO AINDA MAIS: NÃO HAVIA PÃO PARA TODOS.

— MINHA MULHER, O QUE SERÁ DE NÓS? ACABAREMOS TODOS POR MORRER DE NECESSIDADE. E AS CRIANÇAS SERÃO AS PRIMEIRAS…

— HÁ UMA SOLUÇÃO… — DISSE A MADRASTA, QUE ERA MUITO MALVADA. — AMANHÃ DAREMOS A JOÃO E MARIA UM PEDAÇO DE PÃO, DEPOIS OS LEVAREMOS À MATA E LÁ OS ABANDONAREMOS.

O LENHADOR NÃO QUERIA NEM OUVIR FALAR DE UM PLANO TÃO CRUEL, MAS A MULHER, ESPERTA E INSISTENTE, CONSEGUIU CONVENCÊ-LO.

NO APOSENTO AO LADO, AS DUAS CRIANÇAS TINHAM ESCUTADO TUDO, E MARIA DESATOU A CHORAR.

— JOÃO, E AGORA? SOZINHOS NA MATA, ESTAREMOS PERDIDOS E MORREREMOS.

— NÃO CHORE — TRANQUILIZOU-A O IRMÃO. — TENHO UMA IDEIA. ESPEROU QUE O PAI E A MADRASTA DORMISSEM, SAIU DA CABANA, CATOU UM PUNHADO DE PEDRINHAS BRANCAS QUE BRILHAVAM AO CLARÃO DA LUA E AS ESCONDEU NO BOLSO. DEPOIS VOLTOU PARA A CAMA. NO DIA SEGUINTE, AO AMANHECER, A MADRASTA ACORDOU AS CRIANÇAS.

— VAMOS CORTAR LENHA NA MATA. ESTE PÃO É PARA VOCÊS.

PARTIRAM OS QUATRO. O LENHADOR E A MULHER NA FRENTE E AS CRIANÇAS ATRÁS.

A CADA DEZ PASSOS, JOÃO DEIXAVA CAIR NO CHÃO UMA PEDRINHA BRANCA, SEM QUE NINGUÉM PERCEBESSE. QUANDO CHEGARAM BEM NO MEIO DA MATA, A MADRASTA DISSE:

— JOÃO E MARIA, DESCANSEM ENQUANTO NÓS VAMOS RACHAR LENHA PARA A LAREIRA. MAIS TARDE PASSAREMOS PARA PEGAR VOCÊS.

APÓS LONGA ESPERA, OS DOIS IRMÃOS COMERAM O PÃO E, CANSADOS E FRACOS COMO ESTAVAM, ADORMECERAM. QUANDO ACORDARAM, ERA NOITE ALTA E, DO PAI E DA MADRASTRA, NEM SINAL.

— ESTAMOS PERDIDOS! NUNCA MAIS ENCONTRAREMOS O CAMINHO DE CASA!

— SOLUÇOU MARIA.

— ESPEREMOS QUE APAREÇA A LUA NO CÉU E ACHAREMOS O CAMINHO DE CASA — CONSOLOU-A O IRMÃO.

QUANDO A LUA APARECEU, AS PEDRINHAS QUE JOÃO TINHA DEIXADO CAIR PELO ATALHO COMEÇARAM A BRILHAR; SEGUINDO-AS, OS IRMÃOS CONSEGUIRAM VOLTAR ATÉ A CABANA.

AO VÊ-LOS, O PAI E A MADRASTRA FICARAM ESPANTADOS. EM SEU ÍNTIMO, O LENHADOR ESTAVA ATÉ CONTENTE; MAS A MULHER, ASSIM QUE FORAM DEITAR, DISSE QUE PRECISAVAM TENTAR NOVAMENTE, COM O MESMO PLANO. JOÃO, QUE TUDO ESCUTARA, QUIS SAIR À PROCURA DE OUTRAS PEDRINHAS, MAS NÃO PÔDE, POIS A MADRASTA TRANCARA A PORTA.

MARIAZINHA ESTAVA DESESPERADA:

— COMO PODEREMOS NOS SALVAR DESTA VEZ?

— DAREMOS UM JEITO, VOCÊ VAI VER — RESPONDEU O IRMÃO.

NA MADRUGADA DO DIA SEGUINTE, A MADRASTA ACORDOU AS CRIANÇAS E FORAM NOVAMENTE PARA A MATA. ENQUANTO CAMINHAVAM, JOÃOZINHO ESFARELOU TODO O SEU PÃO E O DA IRMÃ, FAZENDO UMA TRILHA. DESSA VEZ SE AFASTARAM AINDA MAIS DE CASA E, CHEGANDO A UMA CLAREIRA, O PAI E A MADRASTA DEIXARAM AS CRIANÇAS COM A DESCULPA DE CORTAR LENHA, ABANDONANDO-AS.

JOÃO E MARIA ADORMECERAM POR FOME E CANSAÇO E, QUANDO ACORDARAM, ESTAVA MUITO ESCURO. MARIA DESATOU A CHORAR.

MAS, DESTA VEZ, NÃO CONSEGUIRAM ENCONTRAR O CAMINHO: OS PÁSSAROS DA MATA TINHAM COMIDO TODAS AS MIGALHAS. ANDARAM POR MUITO TEMPO DURANTE A NOITE E, APÓS UM BREVE DESCANSO, CAMINHARAM O DIA SEGUINTE INTEIRINHO, SEM CONSEGUIR SAIR DAQUELA MATA IMENSA.

ESTAVAM COM TANTA FOME QUE COMERAM FRUTINHAS AZEDAS E RETOMARAM O CAMINHO. QUANDO O SOL SE PÔS, DEITARAM-SE SOB UMA ÁRVORE E ADORMECERAM. O PIAR DE UM PASSARINHO BRANCO QUE VOAVA SOBRE SUAS CABEÇAS, COMO QUERENDO CONVIDÁ-LOS, ACORDOU-OS.

SEGUIRAM O PASSARINHO E, DE REPENTE, VIRAM-SE DIANTE DE UMA CASINHA MUITO MIMOSA. APROXIMARAM-SE, CURIOSOS, E ADMIRARAM-SE AO VER QUE O TELHADO ERA FEITO DE CHOCOLATE, AS PAREDES DE BOLO E AS JANELAS DE JUJUBA.

— VIVA! — GRITOU JOÃO.

E CORREU PARA MORDER UMA PARTE DO TELHADO, ENQUANTO MARIAZINHA ENCHIA A BOCA DE BOLO, RINDO. OUVIU-SE ENTÃO UMA VOZINHA AGUDA, GRITANDO NO INTERIOR DA CASINHA:

— QUEM ESTÁ O TETO MORDISCANDO E AS PAREDES ROENDO?

NADA ASSUSTADAS, AS CRIANÇAS RESPONDERAM:

— É O SACI-PERERÊ QUE ESTÁ ZOMBANDO DE VOCÊ!

E CONTINUARAM DELICIANDO-SE À VONTADE.

MAS, SUBITAMENTE, ABRIU-SE A PORTA DA CASINHA E SAIU UMA VELHA MUITO FEIA, MANCANDO, APOIADA EM UMA MULETA. JOÃO E MARIA ASSUSTARAM-SE, MAS A VELHA LHES DEU UM LARGO SORRISO, COM A BOCA DESDENTADA.

— NÃO TENHAM MEDO, CRIANÇAS. VEJO QUE TÊM FOME, A PONTO DE QUASE DESTRUÍREM A CASA. ENTREM! VOU PREPARAR UMA JANTINHA.

O JANTAR FOI DELICIOSO E GOSTOSAS TAMBÉM AS CAMINHAS MACIAS APRONTADAS PELA VELHA PARA JOÃO E MARIA, QUE ADORMECERAM FELIZES.

NÃO SABIAM, OS COITADINHOS, QUE A VELHA ERA UMA BRUXA QUE COMIA CRIANÇAS E, PARA ATRAÍ-LAS, TINHA CONSTRUÍDO A CASINHA DE DOCES. AGORA ELA ESFREGAVA AS MÃOS, SATISFEITA.

— ESTÃO EM MEU PODER, NÃO PODEM ME ESCAPAR. PORÉM, ESTÃO UM POUCO MAGROS. É PRECISO FAZER ALGUMA COISA.

NA MANHÃ SEGUINTE, ENQUANTO AINDA ESTAVAM DORMINDO, A BRUXA AGARROU JOÃO E O PRENDEU EM UM PORÃO ESCURO; DEPOIS, COM UMA SACUDIDA, ACORDOU MARIA.

— DE PÉ, PREGUIÇOSA! VÁ TIRAR ÁGUA DO POÇO, ACENDA O FOGO E APRONTE UMA BOA REFEIÇÃO PARA SEU IRMÃO. ELE ESTÁ FECHADO NO PORÃO E TEM DE ENGORDAR

BASTANTE. QUANDO CHEGAR NO PONTO, VOU COMÊ-LO.

MARIAZINHA CHOROU E DESESPEROU-SE, MAS FOI OBRIGADA A OBEDECER. CADA DIA COZINHAVA PARA O IRMÃO OS MELHORES QUITUTES. E TAMBÉM, A CADA MANHÃ, A BRUXA IA AO PORÃO E, POR TER VISTA FRACA E NÃO ENXERGAR A UM PALMO DO NARIZ, MANDAVA:

— JOÃO, DÊ-ME SEU DEDO, QUERO SENTIR SE JÁ ENGORDOU!

MAS O ESPERTO JOÃO, EM VEZ DE MOSTRAR SEU DEDO, ESTENDIA-LHE UM OSSINHO DE FRANGO. A BRUXA FICAVA ZANGADA PORQUE, APESAR DO QUE COMIA, O MOLEQUE ESTAVA CADA VEZ MAIS MAGRO! UM DIA PERDEU A PACIÊNCIA.

— MARIA, AMANHÃ ACENDA O FOGO LOGO CEDO E COLOQUE ÁGUA PARA FERVER.

MAGRO OU GORDO, PRETENDO COMER SEU IRMÃO. VENHO ESPERANDO HÁ MUITO TEMPO!

A MENINA CHOROU, SUPLICOU, IMPLOROU, EM VÃO.

NA MANHÃ SEGUINTE, MARIAZINHA TRATOU LOGO DE COLOCAR NO FOGO O CALDEIRÃO CHEIO DE ÁGUA, ENQUANTO A BRUXA ESTAVA OCUPADA EM ACENDER O FORNO, DIZENDO QUE IA PREPARAR O PÃO — MAS, NA VERDADE, QUERIA ASSAR A POBRE MARIAZINHA. E DO JOÃO, FARIA UM COZIDO.

QUANDO O FORNO ESTAVA BEM QUENTE, A BRUXA DISSE A MARIA:

— ENTRE ALI E VEJA SE ESTÁ NA TEMPERATURA CERTA PARA ASSAR O PÃO.

MAS MARIA, QUE JÁ COMPREENDERA, NÃO CAIU NA ARMADILHA.

— COMO SE ENTRA NO FORNO? — PERGUNTOU INGENUAMENTE.

— VOCÊ É MESMO UMA BOBA! OLHE PARA MIM! E ENFIOU A CABEÇA DENTRO

DO FORNO.

MARIAZINHA, ENTÃO, MAIS QUE DEPRESSA DEU-LHE UM EMPURRÃO, ENFIANDO-A NO FORNO, E FECHOU A PORTINHOLA COM A CORRENTE. E A BRUXA MALVADA QUEIMOU ATÉ O ÚLTIMO OSSO.

MARIA CORREU AO PORÃO E LIBERTOU O IRMÃO. ABRAÇARAM-SE, CHORANDO LÁGRIMAS DE ALEGRIA; DEPOIS, NADA MAIS TENDO A TEMER, EXPLORARAM A CASA DA BRUXA.

E QUANTAS COISAS ACHARAM! COFRES E MAIS COFRES, CHEIOS DE PEDRAS PRECIOSAS E DE PÉROLAS.

— RELUZEM MAIS QUE AS MINHAS PEDRINHAS — DISSE JOÃO. — VOU LEVAR ALGUMAS PARA CASA.

E ENCHEU OS BOLSOS DE PÉROLAS. COM SEU AVENTALZINHO, MARIA FEZ UMA TROUXINHA COM DIAMANTES, RUBIS E ESMERALDAS. DEIXARAM A CASA DA FEITICEIRA E AVANÇARAM PELA MATA, MAS NÃO SABIAM PARA QUE LADO DEVERIAM IR. ANDARAM BASTANTE, ATÉ CHEGAR PERTO DE UM RIO.

— COMO VAMOS ATRAVESSAR O RIO? — DISSE MARIA, PENSATIVA. — NÃO VEJO PONTE EM NENHUM LADO.

— TAMBÉM NÃO HÁ BARCOS — ACRESCENTOU JOÃO. — MAS, LÁ ADIANTE, ESTOU VENDO UM MARRECO. QUEM SABE NOS AJUDARÁ?

GRITOU NA DIREÇÃO, MAS O MARRECO ESTAVA LONGE E PARECEU NÃO ESCUTÁ-LO.

ENTÃO JOÃO COMEÇOU A ENTOAR:

SENHOR MARRECO, BOM NADADOR, SOMOS FILHOS DO LENHADOR, NOS LEVE PARA A OUTRA MARGEM, TEMOS QUE SEGUIR VIAGEM.

O MARRECO APROXIMOU-SE DOCILMENTE. JOÃO SUBIU EM SUAS COSTAS E ACENOU PARA A IRMÃ FAZER O MESMO.

— NÃO, DISSE MARIA. — UM DE CADA VEZ, PARA NÃO CANSAR DEMAIS O BICHINHO.

E ASSIM FIZERAM. UM DE CADA VEZ, ATRAVESSARAM O RIO NA GARUPA DO MARRECO E, APÓS AGRADECEREM CARINHOSAMENTE, CONTINUARAM SEU CAMINHO.

DEPOIS DE ALGUM TEMPO, PERCEBERAM QUE CONHECIAM AQUELE LUGAR. CERTA VEZ TINHAM APANHADO LENHA NAQUELA CLAREIRA, DE OUTRA VEZ TINHAM IDO COLHER MEL NAQUELAS ÁRVORES.

FINALMENTE, AVISTARAM A CABANA DE UM LENHADOR. COMEÇARAM A CORRER NAQUELA DIREÇÃO, ESCANCARARAM A PORTA E CAÍRAM NOS BRAÇOS DO PAI QUE, ASSUSTADO, NÃO SABIA SE RIA OU CHORAVA.

QUANTO REMORSO SENTIRA DESDE QUE ABANDONARA OS FILHOS NA MATA!

QUANTOS SONHOS HORRÍVEIS TINHAM PERTURBADO SUAS NOITES! CADA PORÇÃO DE PÃO QUE COMIA FICAVA ATRAVESSADA NA GARGANTA.

POR GRANDE SORTE, A MADRASTA RUIM, QUE O OBRIGARA A SE LIVRAR DOS FILHOS, JÁ TINHA MORRIDO.

JOÃO ESVAZIOU OS BOLSOS, RETIRANDO AS PÉROLAS QUE HAVIA GUARDADO; MARIA DESAMARROU O AVENTALZINHO E DEIXOU CAIR AO CHÃO UMA CHUVA DE PEDRAS PRECIOSAS.

AGORA JÁ NÃO DEVERIAM MAIS TEMER NEM MISÉRIA, NEM CARESTIA. E ASSIM, DESDE AQUELE DIA, O LENHADOR E SEUS FILHOS VIVERAM NA FARTURA, SEM MAIS NENHUMA PREOCUPAÇÃO.


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